Todos os domingos, quer fizesse chuva ou sol, lá íamos à tarde, com o pai, fazer a voltinha.
A voltinha consistia num passeio, normalmente a pé, que fazíamos pelas redondezas da nossa casa, na Medrosa.
Umas vezes íamos até aos Lombos, mas normalmente a voltinha era pela estrada militar, até ao sítio onde agora fica a vulgo NATO, desde 1970, mais ano menos ano.
Nessa altura, ainda havia a casa do cantoneiro, onde os cantoneiros – homens que tiravam as ervas daninhas das bermas da estrada e a mantinham limpa – guardavam os seus apetrechos. Muitos anos depois dos cantoneiros terem desaparecido – e durante anos foram dois, um grande e gordo e um mais pequeno que por lá andaram – a casa manteve-se meio em ruínas e serviu para brincarmos às escondidas.
Ainda me recordo duma vez termos subido a ladeira que agora está encerrada, pertença da NATO, e estarmos a ver a vista que se perdia até Lisboa (fabulosa!) e do pai me dizer para eu aproveitar aquela vista porque um dia desses já não poderia usufruir dela, com a construção de prédios que se avizinhava. E é bem verdade, aquela vista linda perdeu-se, mas perdura na minha memória. Nesse dia e nesse sítio vi, pela primeira vez na vida, um ouriço caixeiro, mas estava morto. Parecia um rato cheio de picos.
Mas o que nós mais gostávamos da voltinha, era quando íamos à arvore das “pistas” – mais uma vez paro para fazer reparo que as “pistas” eram tudo o que fosse rebuçado, pastilha, ou outra coisita do género que os pais traziam da Holanda, “pista” era abreviatura de pastilha que um de nós resolveu dizer, mal, mas que deu origem a uma nova palavra no nosso vocabulário.
Na árvore a que o pai subia, estava sempre um rolo de “mentos” ou de outra marca que depois servia para adoçar a nossa boca. E, para mim, que detestava sair de casa para ir fazer a voltinha, porque preferia ficar em casa a ler um livro, era o maior motivo para ir.
Eu sabia que a árvore não dava “pistas” mas (era muito esperta) dizia para com os meus botões que era porque o pai passava sempre ali de carro de manhã quando ia à Igreja e era nessa altura que punha lá as “pistas”. Sinceramente nunca me passou pela cabeça que ele as tivesse no bolso e fingisse que as tirava da árvore. Enfim, coisas de criança…
Ao pé da árvore das “pistas” havia um grande banco de pedra, na berma da estrada, onde nos sentávamos sempre para descansar e comer as “pistas”.
Lembro-me de, por vezes, fazermos o passeio de bicicleta, mas a maior parte das vezes era mesmo a pé.
Memories…
Beta
2 comentários:
Adoro as tuas lembranças...
e há mais lembranças, muitas mais, vai lendo...
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