terça-feira, 18 de novembro de 2008

Estrada da Medrosa, lote 2 - Oeiras

Hoje vinha no comboio a pensar que nunca escrevi sobre a casa e o lugar onde cresci. Não nasci, mas foi quase como se tivesse, porque da minha vida em Lisboa só me lembro mesmo da loja de electrodomésticos que havia no prédio onde morei.

Em Abril de 1961, tinha eu quase 3 anos, mudámo-nos os 5 (Pai, Mãe, Paulo, Ana e eu) para a casa de Oeiras. Só de lá saí definitivamente no dia 1 de Setembro de 1979, quando me casei.

Todos os dias passo lá à porta e imagino agora a casa que será, quase 30 anos depois. Conheço as pessoas que lá moram, mas não privo com elas. No entanto, talvez gostasse de privar, para poder cuscar a casa actual. Fizeram uma garagem e um portão nas traseiras, puseram outro baloiço no quintal (o nosso era bem maior e melhor), grades nas janelas, tiraram a trepadeira que tanto a caracterizava, mas que devia encher tudo de lagartixas e osgas, mas por dentro não faço a mínima ideia de como ela está.

Mas fecho os olhos e recuo no tempo, vejo o hall de entrada com um caixote pintado de branco virado no chão e um monte imenso de LEGO espalhado e 4 ou 5 crianças atarefadas a construir casas, carros e outras coisas mais. Mais à frente, estava “A Cómoda”, uma coisa enorme que tinha vindo da Quinta de Benfica, e onde numa das muitas gavetas tínhamos os livros de quadradinhos para nos entretermos.

Uma casa cheia de recordações e sabem? Se não escrevermos sobre estas recordações elas vão-se esvair no tempo e amanhã ninguém se lembrará de nada. Por isso o faço, tenho a minha memória, o meu disco rígido cheio de recordações que preciso deitar cá para fora, porque estão a ocupar demasiado espaço.

E quem não se lembra da famosa “piscina” que punhamos no quintal quando começava a aquecer o tempo? Uma coisa pequenina redonda, que enchíamos de água depois aquecida pelo sol, onde cabíamos muitos, onde mergulhávamos, saltando da varanda, e que atraía miúdos das redondezas, como abelhas à volta das flores?

E o “cubículo”, aquela divisão estranha e cheia de tralha, onde às vezes procurávamos coisas esquecidas há anos para matar saudades? Nunca mais me esqueci do meu relógio de cuco, que a mã lá meteu porque já não o podia ouvir. Que desgosto que eu tive quando o fui lá procurar e não o encontrei mais (ele esteve lá muito tempo escondido)…

Ficava aqui um dia inteiro a escrever sobre aquela morada que já não existe nos roteiros. Mas na minha memória ela continua muito presente. E acho que não é só na minha, mas de muitos dos meus irmãos. Foram bons os momentos que lá passámos e é muito bom recordá-los. Sempre.

Beta

PS: A vista que eu tinha da janela do meu quarto já não é a mesma, agora de lá, só se vêem mesmo prédios. Das figueiras já não há sinal. Sinais dos tempos.

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