Naquela noite, faz hoje 33 anos, ficámos, a Mã e eu, como já era habitual desde o 25 de Abril de 1974, acordadas até tarde a ouvir as notícias e a ver as movimentações de tropas na “nossa” Estrada da Medrosa.
As tropas do Ramalho Eanes, ou dos Comandos do Jaime Neves (já não me lembro) e os seus tanques percorriam a rua, colocando-se em pontos estratégicos, à volta do Quartel do RAC (Regimento de Artilharia de Costa), ou melhor dizendo, à porta de nossa casa. O quartel era um espaço dos soldados fiéis a Vasco Gonçalves.
Só por brincadeira, aproveito para contar como era o estado de sítio deste quartel. Por cima das guaritas, tinham colocado sofás, onde se instalavam os tropas de cabelo comprido e barba, de arma em punho e a fumar (provavelmente charros). Parece que os estou a ver à minha frente, a apanhar Sol, naquele Verão que antecedeu o “25 de Novembro”.
Mas voltando à noite propriamente dita….
Veio um senhor oficial, muito atencioso, bater-nos à porta, talvez já fossem mais do que 11 da noite (pois o Pai já estava deitado e isto serve sempre de bitola – A.P.D. antes do pai deitar ou D.P.D. depois do pai deitar).
“Boa noite, minha senhora” disse, batendo a pala “Gostaria de ter autorização sua para colocar as minhas tropas no seu quintal e, se possível, também na varanda da sua casa” solicitou.
“Na varanda? Nem pensar”, disse a Mã. “Tenho 6 crianças a dormir e não quero confusões dentro de casa, mas no quintal, está bem, não há problema!”
O oficial, bateu pala, agradeceu e foi-se embora, mandando as tropas colocar-se em posições no nosso quintal.
História engraçada, hoje, passados estes anos todos, acho realmente incrível a nossa Revolução! Onde é que seria possível pedir autorização para se colocar na varanda duma casa e não a obter da dona e ir-se embora sem mais nada? Só mesmo em Portugal!
E Viva o 25 de Abril!
Beta
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